O Governo angolano (que desde 1975 é da responsabilidade do MPLA) admitiu hoje que a resposta aos fenómenos atmosféricos relacionados com as fortes chuvas e consequentes inundações em Angola “não se tem revelado oportuna e suficiente”. O balanço provisório oficial da época das chuvas em Angola, entre 15 de Agosto de 2018 e 2 deste mês, dá conta da morte de pelo menos 209 pessoas, 100 delas por descargas eléctricas.
Ao abrir, em Luanda, a Reunião da Comissão de Secretários de Estado e Representantes da Sociedade Civil Angolana, no âmbito do Quadro de Recuperação Pós-Seca 2018/2022 e à Época das Chuvas ainda em curso, Salvador Rodrigues lamentou a desadequada “prestação de serviços básicos e de socorro, por falta de meios essenciais, incluindo muitas vezes a exiguidade de verbas”.
Importa, como intróito, reconhecer que João Lourenço só é Presidente desde Setembro de 2017 e que o MPLA só está no Governo desde Novembro de… 1975. E, e tão pouco tempo, seria inexequível fazer mais e melhor.
“Embora tenhamos um plano nacional de preparação, contingência, resposta e recuperação de calamidades e desastres, a nossa intervenção no terreno não se tem revelado oportuna e suficiente”, sublinhou o secretário de Estado do Interior para o Asseguramento Técnico de Angola.
O balanço provisório oficial da época das chuvas em Angola, no período entre 15 de agosto de 2018 e 02 deste mês, dá conta da morte de pelo menos 209 pessoas – 100 por descargas eléctricas, 101 por afogamento e oito por soterramento após o deslize de terras, causando prejuízos de quase 3.000 milhões de kwanzas (8,3 milhões de euros).
Segundo um relatório da Comissão, as chuvas provocaram ainda 350 feridos e afectaram 23.784 famílias, correspondentes a 114.463 pessoas, destruíram também 3.829 residências, danificaram outras 6.038 e inundaram 13.897, bem como 85 igrejas (inundou 16), 98 escolas (34) e nove centros médicos (um danificado).
Segundo o relatório, as chuvas e as inundações provocaram também a morte de 137 cabeças de gado, a destruição de 7.553 hectares de lavras, de quatro pontes rodoviárias e de cinco postes de iluminação pública e a queda de 224 de árvores.
Hoje, Salvador Rodrigues lembrou que o relatório abarca dados apenas até 2 deste mês, pelo que não está incluída informação sobre as fortes chuvas que caíram ao longo da semana, e que causou mais vítimas mortais, com destaque para as províncias de Benguela, Luanda, Huíla, Bié, Cabinda e Uíge.
“Neste contexto, tendo em conta a degradante situação social em que se encontram as populações afectadas, e não existindo stock suficiente de meios e bens para atenuar o sofrimento, é urgente e necessário que a Protecção Civil se preocupe e se debruce sobre o assunto”, avisou Salvador Rodrigues.
Para o governante, o Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros (SNPCB) tem de encontrar forma de mobilizar atempadamente meios para socorrer as vítimas, “recorrendo à prestimosa atenção do Ministério das Finanças na disponibilização de recursos paria a implementação de acções imediatas de resposta humanitária e reposição das condições básicas de vida daquelas populações”, concluiu.
Moçambique e Angola ou uma “santa” hipocrisia
Mostrando uma rara perspicácia, a ministra da Saúde de Angola admitiu no passado dia 25 de Março que as chuvas abundantes que caíram na província de Benguela, que causaram pelo menos 16 mortos, podiam originar “novos casos de malária”, mas garantiu que a “situação sanitária está controlada”.
“Do ponto de vista da saúde, em Benguela, e da assistência médica e medicamentosa, estamos a cumprir o nosso papel e em termos de saúde a situação está controlada. Acreditamos que tenhamos mais casos de malária”, disse Sílvia Lutucuta, em Luanda.
Quanto a eventuais e atempadas medidas ficamos na mesma. Ou seja, depois da casa assaltada… prescreve o tempo de prisão preventiva.
Questionada em conferência de imprensa sobre o apoio que estava a ser prestado às populações afectadas pelas chuvas abundantes, na província de Benguela, que no dia 16 de Março causaram 16 mortos e o desabamento de várias residências, afirmou que o sector “respondeu prontamente”.
Sobre a ajuda humanitária que Angola estava então a prestar a Moçambique, com assistência médica e medicamentosa, devido ao ciclone Idai que vitimou centenas de pessoas e deixou milhares afectadas “quando em Benguela se alegam carências”, Sílvia Lutucuta disse tratar-se de “situações distintas”.
“Em Benguela, ao contrário de Moçambique, nós ainda conseguimos ter as nossas unidades sanitárias preservadas, não foram afectadas minimamente, uma inundação, mas não foi uma situação tão dramática como em Moçambique”, explicou.
Mas, observou, “havia meios e recursos para tratamento dos doentes”.
“Mesmo assim, enviámos dois contentores com bastantes medicamentos e com material gastável e fomos os primeiros a chegar a Benguela”, assinalou. Boa senhora ministra. O Governo de… Angola foi o primeiro a chegar à província… angolana de Benguela. É obra!
“O sector da saúde foi o primeiro a chegar a Benguela com meios necessários e recursos humanos, equipas técnicas especiais para o combate às catástrofes. Tão logo tivemos conhecimento da situação interagimos com as autoridades locais sobre a situação”, disse Sílvia Lutucuta.
Na ocasião, o Presidente João Lourenço manifestou “grande consternação” pelos “acontecimentos trágicos” ocorridos na província de Benguela. As vítimas mortais não devem ter sentido grande diferença com a consternação do Presidente. Se calhar estariam vivas se o Governo tomasse a tempo e horas medidas profilácticas que evitassem estes dramas. Mas, compreende-se, o Executivo tem outras prioridades. E, entre cuidar das condições de vida dos cidadãos e construir um “elefante branco” para homenagear cubanos e russos que andaram a matar angolanos, a escolha só poderia ser mostrar a megalomania do regime no Cuito Cuanavale.
Numa mensagem divulgada pela Casa Civil do Presidente da República, João Lourenço lamentou também os ferimentos em “dezenas” de cidadãos, a destruição de habitações e os danos em bens patrimoniais.
No mesmo dia em que Sílvia Lutucuta explicava o inexplicável, o seu governo enviava o quarto voo com cerca de 52 toneladas de medicamentos e material gastável, para a cidade da Beira, para acudir as populações afectadas pelo ciclone Idai.
Segundo a ministra Sílvia Lutucuta, a acção enquadrou-se na “missão humanitária e de solidariedade” de Angola, naquele país desde 22 de Março, para “atenuar a situação crítica”.
“Porque de facto o cenário que encontramos é bastante crítico, tivemos ocasião de sobrevoar a cidade da Beira, um cenário de grande destruição e ainda continuava a haver pessoas penduradas nas árvores, por cima de residências”, disse.
Para a cidade da Beira, seguiram nesse mesmo dia dois helicópteros para apoiar a operação de resgate de pessoas em zonas de difícil acesso, e mais dois helicópteros com uma tripulação de especialistas treinados em resgate.
Angola teve na cidade da Beira uma “missão humanitária e de solidariedade” composta por cerca de 100 pessoas, entre técnicos do Ministério da Saúde e da Defesa, com tropas especiais, que se juntaram às equipas locais de salvamento.
Especificamente, Sílvia Lutucuta deu conta que das 100 pessoas estavam em Moçambique de forma permanente 68 profissionais entre médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, de saúde pública treinados para as grandes epidemias e outros especialistas.
A governante recordou que o primeiro apoio de Angola foi de cerca de 26 toneladas, com diversos meios, nomeadamente medicamentos, materiais gastáveis e outros meios para a subsistência das equipas.
Folha 8 com Lusa
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